Um dos mais importantes filósofos da ciência do século XX, Thomas Kuhn mudou o modo de se refletir acerca da prática científica, chamando a atenção para aspectos não-científicos no cotidiano da pesquisa: elementos filosóficos e sociais estão a cercar o pesquisador por detrás de cada equipamento, embaixo de cada bancada de laboratório, no início de cada processo de pesquisa, no final de todo progresso científico, sustentando cada artigo acadêmico. Especificamente nos momentos em que há crises e transformações expressivas na prática científica, diz o autor, “o que ocorre durante uma Revolução Científica não é totalmente redutível a uma reinterpretação de dados estáveis e individuais” (KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 2001, p. 157) . Por este motivo é preciso utilizar de fontes extracientíficas para entender como a ciência se comporta nestes momentos. Comentando o principal livro de Kuhn, Sergio Sismondo destaca:
[…] o fundamento comunitário da solidez dos conhecimentos científicos, a natureza perspectiva deste conhecimento e a mão de obra necessária para criá-lo. Mais importante: a popularidade do livro de Kuhn e leituras iconoclastas dele abriram novas possibilidades para olhar a ciência como uma atividade social” (SISMONDO, Sergio. Science and Technology Studies and an Engaged Program. In: HACKETT, Edward J. et al (orgs.). Handbook of Science and Technology Studies. Cambridge: MIT Press, 2008, p. 14).
Desde a década de 1960, portanto, e muito graças à reflexão de Kuhn, a filosofia da ciência contemporânea compreende que a prática da pesquisa científica se faz a partir de pressupostos muitas vezes bastante distantes da imparcialidade e desinteresse tradicionalmente veiculados pela filosofia positivista e neo-positivista da primeira metade do século XX. Segundo Kuhn, a ciência se faz com elementos que não só se unem à pesquisa científica de modo indireto, mas com importância fundamental, como é o caso das influências sociais citadas pelo filósofo da ciência norte-americano. Ora, a reflexão sobre Logística Reversa, uma área da Engenharia de Produção, não é diferente das outras práticas científicas e, por isso mesmo, tem se aproximado nos últimos anos de questões aparentemente distantes. Não é raro encontrar pesquisadores preparando uma aproximação entre temas da Logística Reversa e questões legais, humanas e ambientais no Brasil e no mundo, temas que são aparentemente extrínsecos à Gestão de Negócios. Mas como se caracterizam essas pesquisas? Que elementos podem trazer hoje novas luzes ao discurso da Logística Reversa?


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